Datas comemorativas: fazendo Arte ou não?
Ana Maria Petraitis Liblik, Isoldi Ciscato e Thais Gralik

Entre os inúmeros problemas que o professor de Arte enfrenta nas escolas está o de participar ou não de datas comemorativas. Faz parte do universo escolar festejar algumas festas religiosas (e outras nem tanto por serem apenas apelos comerciais) que estão no imaginário de professores e alunos.

O profissional do ensino de Arte passou por diversas fases – desde a mais completa isenção sobre o assunto até a participação obrigatória neste cotidiano. Neste vai-e-vem de tendências podemos ver de tudo. É comum ainda hoje encontrar pelos corredores das escolas “enfeites” feitos pelos alunos sob a batuta da professora e que se referem a datas específicas tais como Páscoa, Dia das Mães, Festas Juninas e outras mais que todos conhecemos. Coelhinhos mimeografados, com um pompom de algodão, quem pode dizer que nunca viu? Cartões para comemorar o Natal com bastante purpurina como se isso desse um brilho especial à data... Cocares empertigados nas cabeças das crianças para comemorar o Dia do Índio, ou uma profusão de corações vermelhos para festejar o Dia das Mães são alguns dos exemplos que fazem parte deste universo.

De um lado o professor que acredita que deva fazer algo nestas datas e do outro a instituição escola que pressiona e até obriga o profissional a participar. Outros que não acreditam e outros que não querem fazer. Quem está certo? Será que há uma única verdade? O que fazer frente a este impasse?

Dizem os mais antigos que o equilíbrio entre os extremos é o bom senso. Usar dele talvez seja atender a escola, mas atender também ao que se acredita seja adequado para o ensino de Arte. Que tal pensar em atividades que consigam fazer com que, ao mesmo tempo, a instituição fique satisfeita e o aluno aprenda algo significativo em Arte?

Acreditamos que podemos tomar partido destas datas para elaborar com as crianças atividades que lhes tragam o conhecimento em Artes, assim como o prazer da experiência estética e o desenvolvimento da afetividade. Uma boa razão para isto está no fato de que normalmente a educação escolar não costuma levar em conta as expectativas e as demandas de uma sociedade pós-moderna. Vivemos em uma sociedade modificada pela indústria cultural de massa, publicidade, novas mídias, globalização e uma saturação da informação, que promovem uma crise em todos os setores da vida individual e coletiva, e leva a profundas transformações nas subjetividades, tanto das crianças quanto dos adultos.

A infância, tal como a concebemos hoje, começou a mudar a partir dos anos 50. “As instituições entretanto têm-se mostrado lentas para reconhecer as novas configurações familiares diferentes e as dificuldades especiais que elas encontram” (STEINBERG & KINCHELOE, 2001, p. 13.).

Na contemporaneidade fala-se em “perda da infância” (id. 2001), crianças que crescem muito rápido, crescem sozinhas por ausência dos pais, e lares fragmentados. “A mudança na realidade econômica, associadas ao acesso das crianças a informação sobre o mundo adulto, transformou radicalmente a infância” (id. 2001).

Apesar destas mudanças, como bem observa PARSONS (In: BARBOSA, 2005, p. 303), o ensino de Arte tem se voltado para as questões relativas à disciplina e questões sociais, mas tem “prestado muito menos atenção às questões psicológicas dos estudantes”.

Já recomendava Porcher (1973) que os objetivos de uma verdadeira Educação Artística no ensino de Arte na escola primária (hoje correspondendo às séries iniciais do Ensino Fundamental) deviam ser estabelecidos de acordo com três eixos simultâneos. Primeiro, assim como todas as outras atividades, as que são do contexto artístico visam à formação intelectual do aluno. Segundo, “não existe espontaneidade natural nem liberdade imediatamente criativa. É preciso dar à criança os instrumentos necessários para a sua auto-expressão” (p. 15). Terceiro, “o ensino artístico visa dar às crianças os meios de se tornarem sensíveis à obra de arte” (p. 15). Descontando os mais de trinta anos deste texto podemos perceber o quanto estamos dando voltas em torno das mesmas limitações e dificuldades. Há sim possibilidades de atender a escola e atender a nossa própria formação, sem nos mortificar em demasia. O bom senso retorna em pauta.

Vamos ver alguns bons exemplos realizados pelos participantes do grupo de estudos do pólo UFPR e que podem auxiliar o professor – tanto o de Arte quanto o generalista – a organizar as suas aulas.
Vamos considerar que as datas mais festejadas pelo Brasil afora são as seguintes: Páscoa, Dia do Índio, Dia das Mães, Festa Junina, Dia dos Pais, Dia do Folclore, Festas Nacionais, Dia da Criança, Dia do Professor e Natal. Delas vamos escrever apenas sobre duas: a Páscoa e o dia das Mães.

Páscoa – coelhos e mais coelhos...
Veja como esta idéia para os coelhinhos da Páscoa torna-se interessante se forem inspirados no pintor PAUL KLEE (alemão-suisso).

NÃO FOI POSSÍVEL INSERIR A IMAGEM

A partir do trabalho acima se pode pintar bandejas de isopor com giz de cera, e depois recortar o formato de coelho nela. Fica um colorido alegre e divertido. Esse fundo colorido com giz de cera ficou riquíssimo. O isopor realça as cores. A cestinha propriamente dita foi feita com um rolinho de papel higiênico encapado com papel sulfite colorido (Canson) Os detalhes da carinha foram feitos na mesma cor escolhida para encapar o rolinho. Usar cola quente para colar o coelho (isopor recortado) ao rolinho facilita.

Os alunos que fizeram esse trabalho ficaram felizes com o resultado. A faixa etária trabalhada foi de jardim II (4 a 5 anos) até 10 anos.


Dia das Mães – chega de corações!

NÃO FOI POSSÍVEL INSERIR AS IMAGENS

Os trabalhos acima, elaboração de cartões para o Dia das Mães, foram realizados com inspiração nas bandeirinhas do pintor Alfredo Volpi. A partir de alguns quadros do artista desenvolveu-se a proposta para que cada criança criasse, com as bandeirinhas previamente recortadas, o seu próprio motivo.

NÃO FOI POSSÍVEL INSERIR AS IMAGENS

As crianças foram orientadas para utilizar duas cores contrastantes e tanto o triângulo quanto o pentágono recortados deveriam ser utilizados. Alguns alunos preferiam fazer trabalhos com o cartão em preto e outros em branco. A colagem era livre. Os alunos gostaram, a escola ficou satisfeita e as mães muito mais!

Neste texto propomos atividades não para estimular mais ainda o consumo entre crianças, alimentar o comércio que lucra com estas datas, nem para satisfazer administradores escolares que desejam enfeitar a escola, mas sim para que elas não simplesmente desenvolvam habilidades para interpretar o sentido da mídia, mas que tenham oportunidade para entender “os meios que elas próprias consomem e investem afetivamente” (STEINBERG & KINCHELOE, 2001, p. 23).
O ensino da Arte sempre foi polêmico nas escolas. Preconceitos e falta de reconhecimento sobre a necessidade e o valor deste ensino como fonte de conhecimento, desenvolvimento emocional e intelectual do ser humano podem levar algumas vezes a se relegar o professor de Artes a um mero realizador de tarefas em datas comemorativas na escola. Entre se recusar a participar e participar apenas por obrigação, nós podemos pensar em sugestões criativas. Que tal pensar em utilizar estas idéias para as próximas datas comemorativas?

BARBOSA, Ana Mae.Arte/educação contemporânea: consonâncias internacionais. São Paulo: Cortez, 2005.

PORCHER, Louis. Educação Artística: luxo ou necessidade? São Paulo: Summus, 1982 (1ª. Edição em 1973 – Paris – Librairie Armand Colin).

STEINBERG, Shirley R.; KINCHELOE, Joe L. Cultura infantil: a construção corporativa da infância. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

LEIA O TEXTO ORIGINAL E COMPLETO COM AS IMAGENS NO SITE OFICIAL DO ARTE NA ESCOLA

BASEADAS NAS REFLEXÕES DO TEXTO ACIMA, RESOLVEMOS "PENSAR" EM PROPOSTAS DE ENSINO DE ARTE DE ACORDO COM AS NOVAS PROPOSTAS E METODOLOGIAS CONTEMPORÂNEAS E AO MESMO TEMPO ATENDENDO SENSATAMENTE AS DEMANDAS CULTURAIS DE NOSSO CONTEXTO EM RELAÇÃO AS DATAS COMEMORATIVAS.


PLANO DE AULA
TEMA: “A ARTE COMO MEIO DE EXPRESSÃO DO SENTIMENTO FILIAL EM HOMENAGEM AO DIA DOS PAIS”
OBJETIVO GERAL:
– Mediar conhecimentos teórico práticos sobre o desenho de observação da figura humana , através da vida e obra de Juarez machado, com ênfase numa homenagem aos pais.
Objetivos específicos:
– Apresentar o artista catarinense Juarez Machado: sua história e sua arte no desenho da figura humana.
– Sugerir a observação dos hábitos paternos que mais o identificam.
– Sugerir fotografar , ou trazer foto já existente do pai em seu hábito favorito.
– Propor o fazer artístico interpretando a fotografia através do desenho.
– Fotografar o desenho e imprimir (terceirizando o trabalho de impressão com profissional do ramo) numa camiseta, caneca, ou colocá-la em porta-retrato para presentear no dia dos pais.
• Justificativa:
Tendo em vista que a arte é um meio de expressão do pensamento e sentimento do artista nada melhor do que mediá-la refletindo sobre um dos mais importantes sentimentos da estrutura familiar. Sendo o desenho uma linguagem, porque não utilizá-la para expressar a gratidão por quem tanto se dedica em beneficio de seus filhos? Por outro lado, diante da necessidade de inserir as aulas de arte no contexto cultural da comemoração do dia dos pais, propõe-se mediar conhecimentos teórico/práticos da história da arte catarinense, através do artista Juarez Machado, e direcionar o fazer artístico à expressão do sentimento filial como homenagem aos pais. Não desconhecendo a realidade atual, na qual a família nem sempre tem presente a figura do pai, esse plano de aula pretende diagnosticar com antecedência esses casos na turma a ser trabalhada, verificando as possibilidades de direcionar a homenagem ao avô, paterno ou materno, padrinhos ou a figura masculina afetiva mais próxima. A naturalidade com que se pretende mediar essas questões visa não suscetibilizar ou discriminar ninguém.
Metodologia:
• Arte e obras de Juarez Machado = aula expositiva dialogada.
• Prática orientada do fazer artístico através da observação em fotografia.
• Propor o desenvolvimento do estilo pessoal evitando a tendência reproduzir o estilo do artista estudado.
• Orientar o registro fotográfico do desenho realizado para encaminhar para impressão de uma camiseta, caneca ou para um porta retrato.
Bibliografia :
– Machado, Juarez,1941. Juarez Machado: atelier de artista/pinturas e textos. Coordenação Waldir Simões de Assis Filho – Curitiba PR: Simões de Assis,1995.
– Machado, Juarez. Ilha de Santa Catarina: caderno de esboços. Edição: Simões de Assis Galeria de Arte.